segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

descomedido delírio

mas ali estava eu
no ritmo
desfrutando do gozo
com naturalidade
sem ser vista
no meio da pista
sentindo pulsar na artéria
o descomedido delírio da felicidade
de uma boa putaria
 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

sim, eu caí nesta

numa noite quase indigesta
virei brinde de fim de festa
aquela seresta
nada modesta
era para outra aresta
e eu caí de testa
exposta
pra deixar de ser besta

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

escrevia

escrevia, escrevia para ele devia? versos para ele rimas para ele poemas para ele e só ele não os lia mas eu seguia minha poesia  escrevia, escrevia 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

elo perdido

o silêncio maldito
após termos fodido
no ciclo partido
com sangue escorrido

um lençol tingido
também de gozo vívido
pelo amor com sentido

o pensamento contorcido
no coração sofrido
deixa o ego ferido
e o corpo da mulher doído

é o meu íntimo contido
por um elo perdido
contigo

devia ter fugido

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

nada senti


















quando assimilei à fundo
não conseguia lembrar
como era na realidade
profundo
aquele amor instantâneo
de principiante feroz
vindo de muito antes do quando
de não sei onde
com alguma intensidade
cujo rosto nunca vi
cuja voz nunca ouvi
que na verdade nunca vivi
extinto antes de nascer
depois do sangue escorrer
arrancado pela raiz do medo
dos teus suspiros de (des)encanto
cantados no calor do meu cangote
no canto do ouvido
e do teu sofrimento amargo de café preto
que um dia bebi ao seu lado

já não tinha mais memória para recordar
nada sem ti

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

em suspensão

Dias em estado de suspensão
E ficou constatado que meus pés
Não tocavam o chão.

Me vi numa contramão rigorosa
Aguardando sua decisão
Para realizar a nossa revolução
Amorosa ou não.

E nada de conexão
Senti frustração
Vivi chorosa
Fiquei temerosa.

Sem sua intenção calorosa
Sofri o mal da inspiração
De uma paixão rancorosa.

E dentro da minha adoração
Só encontrei imaginação
A famosa abstração dolorosa
Que abala meu coração

A questão é: por que não?


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

se não agora, quando?



se for pra ser
que seja já
que seja sim
deixa estar
você cá
dentro de mim
juntos enfim
num chamego
assim
sem fim

domingo, 13 de novembro de 2022

aspirador de pó

esquecidos no canto
do desencanto
juntos à fina poeira do cotidiano
usamos o aspirador de pó
para desatar o nó
e filtrar do fundo do corpo
todo o pormenor leviano
que sobrou de um portanto

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

umazinha


mulher é bicho confuso
fácil entrar em parafuso
com coisa comum
à falta de um
deseja estar com todos
ao mesmo tempo
e assim esteve
aplicando muitos métodos
para conseguir aprender a
separar uma simples coisinha:
aproveitar a leveza de ser só
mais umazinha

sábado, 5 de novembro de 2022

É para isso que eu presto

Empregue amor em mim
Esfregue amor em mim
Entregue amor em mim
Enxergue amor em mim
Em breve você, meu amor, em mim

É para isso que eu presto 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

perdi o passo

na esplendida maturidade
com o espaço interior ocupado
de infinita capacidade de ilusão
fiz a leitura errada
do seu labirinto evasivo
e descalça perdi o passo
no justo tempo de ser

terça-feira, 1 de novembro de 2022

o exato contrário do amor

tive que me haver
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de imensidões

na loucura inicial saciada
que nos moveu em assombrosa fluidez
marcando a pauta da vida
de segundas intenções
me encontrei perdida 
no seu silêncio
e sufocada pelo excesso de delírio

(mordi a isca, tô arisca
aguardando o tempo que o seu tempo tem)

tive que me desfazer
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de senões

terça-feira, 25 de outubro de 2022

o que sobra?

todo o meu corpo
irradiava intenção
atiçada pela fantasia
de me queimar
nas brasas do olhar dele
nos abandonar
nas delícias do tato
com os instintos
em plena desordem
e confissões trêmulas
forjando alguma intimidade
em um namoro furtivo
que cedo ou tarde
tinha que acontecer
e aconteceu
que tudo tornara
a ficar para depois

e agora, o que sobra?

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

um bom negócio





escrevo porque preciso
da minha poesia
íntima terapia
cortesia da alma
uma entrega de mim
quando eu poeto
me forjo em
versos seletos
quase secretos
dialogo com rimas
poetizando um repertório
pouco comportado
transformo dilema
em poema
me revelo
e fico bem assim
eu-poeta
nada discreta
faço um bom negócio
com essa minha poesia
sim

terça-feira, 11 de outubro de 2022

serena tipo um furacão

- sim, estou bem
confusa-mente
em estado de turbilhão
um frio na barriga
que arrepia,
irriga e acelera
meu coração
a respiração curta
furta o ar do pulmão
daí, aquele suspiro constante
...
- ai, ai
...
(isso é coisa de amante)
...
- enfim, tô serena
tipo um furacão.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

teu mel

te encontrar no portal
numa esquina
com desvio à esquerda
na virada da vida
sem saber muito bem
a trilha a nos levar
e sentir o céu
até enfim acordar
naquela manhã doce
de café amargo
com pão e teu mel

terça-feira, 27 de setembro de 2022

o que será

acreditar que te provei
fruto do meu delírio
de pormenores fantásticos
naquela noite desejada
em potência alucinada
no correr da madrugada
me perder no seu universo
e no silêncio após o estar
seguir calada para depois gritar 
o que pode ser e o que será

 

sábado, 17 de setembro de 2022

a deusa coroada

se entrega
enfrenta cataclismas
rompe estruturas
com delicadeza lúdica
cria um outro real
sem mais oportunidades
de viver de novo
um pedaço de vida já vivida
sobrevivente única
não fica onde já não está
anda de ida só
e em boa companhia
tudo aquilo que se tornou
é o que tem sido
coragem, deusa coroada

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Efêmera instalação

Nessa minha primavera de delírio, um amor qualquer apressado se tardou. Perdi totalmente a razão dentro do meu próprio desvario: primeiro submergi na alquimia da sua poesia lunática, extensa, quente, de recursos misteriosos e precários; depois sussurros e amassos pura inspiração, toques com pretensão, prazeres sem pressa, e viramos parte da galeria de arte.
Efêmera instalação.

sábado, 13 de agosto de 2022

oásis

num improviso raro me deparo
em contato com a sua poesia do corpo
criado imerso em arte
ao som das dúvidas
de todos e de nós mesmos
dançamos uma harmonia contrariada
e ambos dormimos sem saber muito
sobre nada

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Se plante e depois brote




















me plantei gente-semente em terra fértil
da chuva me nutri de água pura-seiva-viva
com o fogo do sol rompi o casulo-óbvio
no sopro do ar o prana que me leva-leve
um novo ciclo-espaço-tempo rompe a rota
agora mais que cobaia-samambaia
broto-lótus cheia de vida
mãe-natureza renascida fênix
com muitos anos-luz

domingo, 3 de abril de 2022

Uma tarde a menos

Desconfiaria da minha razão,
paixão,
não fosse eu o que sou em essência.
Tenho um cheiro próprio que
satura a alma e
cria uma névoa penetrável,
você sabe.
Sou a outra possível
força de estar.
Uma porta por onde
cabe o mundo inteiro,
coração.
Hoje é uma tarde a menos,
partindo para nunca mais.

sábado, 2 de abril de 2022

é que o meu olhar mudou


não me entrego ao prazer da adversidade,
não pastoreio rancores,
não me afogo em recordações.
prefiro estar com os pés descalços
a dar passos largos
rumo à realidade imediata que
me traz jorros de fantasias impossíveis.
tenho uma vida inteira pela frente.

sexta-feira, 4 de março de 2022

lábios

você chamou meus grandes
lábios vermelhos
agora eles estão molhados
cheios de segredos pequenos
lábios serenos
de transgressão
no mato é puro tesão

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Na pele

O sol para me iluminar
Uma lua para me escurecer
Vênus para inspirar
Minha constelação para não me perder
E a estrela que me guia torta
Eu trepadeira renascida e florida
Filhos enraizados em mim
Um espiral áureo
Meu infinito particular
Na pele

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

livres amores rasos

te encontro naquela esquina da fresta da imaginação e os pensamentos alvoroçados me atravessam com fortes ventos sussurrantes que vêm cortantes do sul, do fundo dos teus olhos claros. olhos de peixes esses que não me encaram, navegam inquietos pelos (m)ares estrelados, ancorando sem demora por aí.

com os pés descalços plantados na terra me afogo em recordações idílicas de livres amores rasos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

sonho fodido

transbordou à noite
sem convite
uma cilada (a)moral
viva no universo mental
que revivo no mundo imaterial

para além do compasso
da rima já versada
ultrapassei o limite do amasso
num erro crasso
e o sonho virou de cabeça pra baixo

era igual mas ao contrário
daí, perdi o itinerário
eu era ela, ele era você
me senti uma otária
e deu aquele trelelê

fantasia sem fim
tudo muito ruim
(isso que dá fazer escondido)
ser fodida
foi fodido