diário

escrivinhava o cotidiano
no marasmo das duas da tarde
onde ninguém podia reconhecê-la
decifrava os sinais cifrados
das poesias
dos amores
das saudades
não podia evitar
desentranhar as intenções ocultas
botar a alma pela boca
com variações instantâneas
de tempos em tempos

A pilha

Era uma vez uma jovem coroa que se apaixonou pelo seu vibrador
Eis que numa bela noite quente a pilha acabou

en-vol-vida

voltas que a vida dá
vida que dá voltas
que voltas dá a vida
dar vida às voltas
voltas que dá na vida
na vida das voltas
dar de volta na vida
que vida de voltas
a vida às voltas
nas voltas que vida
vida que voltas dá
às voltas de dar na vida
dar nas voltas da vida
dar na vida dá voltas

de volta à vida

sonhando acordada

numa festa lotada
esperando não sei o quê
em plena madrugada
do nada
vem você de além mar
me amar
por meia noite
ou meia hora
sonhei aquele sonho
antes só
agora acompanhada
e acordada

urbana

diante da poesia
lunática concreta
na rotina caótica
de Copacabana
o corpo anestesia
a alma indiscreta
que vibra erótica
em noite insana

Solitária

Proprietária
Do meu canto
Solitária
Por enquanto
.
.
Melhor que ser
Otária

Restei

E os anéis se foram

E as roupas
E os amores
...
Nua
Restei
Viva

epílogo

em noite qualquer
me quer dechavar
esfarelar a pressa
com delicadeza artística
de flerte que diverte
enrolar-nos nus
na safadeza em seda fina
apertar meu corpo
no seu coliseu
é fogo! que acende
e transborda a vereda
desse epílogo

Jogo do Bicho

sorte mesmo
é o pombo
não cagar
na sua cabeça

À deriva

Com o olhar lúcido
E terrível sorriso solar
Vinda de muito antes
Ainda que tardia
Eu não sou para depois

qualquer escrito

ser
é o que tenho sido
abastecida de imensidões
em mim
vibro a possibilidade
do ponto de encontro
que
também é de partida
tudo, enfim,
é despedida

meu quase primeiro Carnaval

vendaval da demasia
festival da fantasia
energia caótica
caótima
tá tudo ótimo
de havaianas na lama
ou suave na casa da mana
um salve à maçã mordida
e ao aval para experimentar
etecetera e tal
bateu total
é chapéu-de-cobra
é maresia
ora veja, mais uma cerveja
e água mineral
é ele de princesa
que brota de surpresa
e lenha na chama
agora reacesa
tem mascarado ensolarado
não declarado
cheio de cortesia
tem encontro desejado
não orquestrado
no bloco e in loco
tem paquera abstrata
na onda do navio pirata
...
sonhei tanto com esse dia
meu quase primeiro Carnaval
transformado em poesia

de sainha

dancei na rua
sem calcinha
pois te dei
de lembrancinha
a calcinha
joguei
para além da lua
e sem calcinha
fiquei
nua e crua
toda facinha
molhadinha
sem calcinha
bem doidinha
te dei
sem calcinha
querendo mais que
a cabecinha
cadê a calcinha
?
bom lembrar
que eu estava
de sainha

uma segunda ruim

numa segunda ruim
de gentileza habitual
para manter o ritual
fui parar num botequim
sozinha,
mas eu tenho a mim
a batatinha
e a (c)erva
.
e você ao longe só observa
cheio de reserva
não me vive
.
foi uma segunda ruim
sozinha

déjà vu

com um sorriso sem graça
assimilei à fundo
estava exausta
como se tivesse vivido um amor absoluto
e não apenas aquilo que é de fato
o prazer de um amor
apressado,
contrariado,
descarrilhado
mas que já não se lembrava mais de mim 
que aconteceu quase de emergência
nem por acaso e nem pelo resto da vida
pelo medo de que a ocasião não se repetisse jamais