confesso

sem nenhuma testemunha
hoje me confesso em um poema
uso poucas palavras
não é roteiro de cinema

meu segredo está vazando
grita em cenas insanas
que saltam por entre as pernas
mostrando viagens obscenas

de encontros clandestinos
com sentido, mas sem destino
a poucos metros de dar errado
mas dei certo

foram muitas Luas em que (a)guardei
em todos os cantos de Terras
encantos, encaixes, esfregas

de quatro, de lado, por cima de mim

agora um novo passo

pois não há mais verso

preciso de um outro universo
já que esse enredo chegou ao fim

me arrumei mais do que de costume

aparei
combinei a melhor calcinha
e a mais confortável
com um perfume
sem roupa de mim
desfrutei facinha
com o desejo inesgotável
de sempre
constatei
uma coisinha

me arrumei mais do que de costume
para

pássara

Novas e velhas lembranças de bons tempos com livres ares. Tudo passa e eu pássara.

Bem-te-vi

Bem-te-vi
de azul
ontem voando
na rua, na chuva
na curva de casa
dessa vez sem asa
fiquei em brasa
não me atrevi
me comovi
com o que vi
e não vivi

Impossível não sentir,
pois bem, te vi.

ponto final

me apego lendo
páginas aleatórias
do livro vivido por nós
narrativas que se cruzam
em mais do que um conto
lendas e entrelinhas

nas esquinas das vidas
filhos e algumas rimas

por ora, encerramos essa história
chegamos ao ponto final
.

inteira

num vasto ciclo

de idas e vindas

dei à luz

a mim mesma

e agora, eu sou eu

de propósito

inteira dentro de mim

precisando apenas daquilo

à que pertenço

Sentidos

Meu corpo
Inteiro multilíngue
Registro vivo
Da vida
Vivida
De alma
Lavada
Levada

Meu corpo
Intimo instrumento
Que cura
E transmite
Vida-morte-vida
A cada ciclo
Bailado por
Mim

Meu corpo
Instinto impregnado
De sensações
Em êxtase oculto
Provo que
Existo e vivo
E sinto tudo
Bem sentido

São tantos Sentidos...

indício de vício

era solstício, lua cheia
acabei presa na teia
de um homem fictício
criado naquele mergulho
madrugada adentro
no universo onírico
.
era verão, noite quente
volta e meia
eu nessa corrente
sim, você é entulho
na minha mente
um desperdício
.
era ontem, inverno frio
recebo seu recado
bem-casado
e hoje percebo que
preciso dar um fim
nesse vício

Preciso me fixar para me mover

Sem mais
andanças e mudanças
fluidez ou inconstância.
De volta ao Rio
direto para o ninho.
Nova fase, novo lar
novo-velho ar
sem par (ou ímpar)
para deturpar.
Num quarto colorido
pendurei meus quadros:
Delfino, Alexander, Toffanello,
e meu mundo paralelo
em colagens que criei,
os sonhos que não realizei.
Falo e sinto colo
no eterno recorta e cola
- e chora.
Enquadrada na parede
agora me fixei, relaxei.
Aguardando os próximos movies
mentais e mais
movimentos e tais

em mim

te vejo on
te desejo in-
-side
em mim

senão

em um sonho erótico torto
espalhei seus olhos
pelo meu corpo
memória e obsessão
pois sobrou um senão
lá no inconsciente
do meu coração

teoria e prática

te encontrei nos achados e perdidos da memória
senti sua playlist, degustei sua foto, toquei sua voz esquecida
e sigo perdida
no espaço-tempo de um instante
numa esquina agora distante
ao me declarar relutante
lembrei do que vivi em teoria
na prática, nadei sem peixes no não (a)amar 

na cama da vizinha elegante que morava logo ali adiante

numa noite instigante

senti sua mão excitante
com vontade determinante
entre minhas pernas tremulantes
desfrutei de trepadas penetrantes
em encontros silenciosos constantes
desejando os sons das notas dissonantes

de amantes vivendo uma trama proibida e ofegante
na cama da vizinha elegante que morava logo ali adiante

ver-de perto

Na varanda ver-
de perto vejo
o verde
dos teus olhos
refletido na
abundância da flor-
resta o que
me cerca

Quero te ver-de perto

Sedenta

minha força também
é minha fraqueza,
com certeza,
e me dar conta disso

agora, conta?
acendo uma ponta

invoco a Deusa

e decepcionada confesso:

estou confusa.

no meio do inferno astral

daqueles brutal
e crescendo,

e sempre e tanto,

batendo na porta
dos quarenta.

Sedenta.

um grão

sinto a união,
mas tive que propor uma divisão
para investigar as camadas da minha ilusão

e buscar compreender a vida, o universo e tudo o mais
para além da imprecisão de uma mulher demais
ampliando a visão sobre os versos e

os diversos aspectos da minha imensidão

agora, hoje, solidão
no fundo inquietação
no meio tudo lindo,

posso reclamar, não
lá fora mundo doido
é muita frustração

sobreviver me divertindo
mais que decisão,
é o que me dá sustentação
assim volto à união

junto toda fragmentação
                                            (ou não)
e me torno novamente
um grão

De verdade

Muitos preferem calar

E se esconder nas sombras.

Me orgulho de poder ser quem sou(l),

Expor isso e me cercar de almas e corações e corpos

Que admiram o meu ser, o meu pensar, o meu sentir, o meu falar, o meu agir.

Sem disfarces. De verdade.

Sou porque somos soul.

Um dia

Sem notar
A toda vez
Sigo o seu olhar
Pura insensatez 
Pois sonho em encontrar 
Trepar com fluidez
Me entregar
Sem timidez 
Amar e me esfregar

Um dia talvez

Poema: uma curadoria de memórias

Vivo de versos desarrumados 
incorporados e improvisados 
que vêm no vento
e se expandem como um grito
que me engole 
num impulso sem controle

Outros cultivo

fora do espaço-tempo

para crescer e florescer
amadurecendo sem pressa
o verso que me expressa
no seu tempo

Com versos vívidos
não necessariamente vividos
perdidos em sonhos
por caminhos
que me guardam em segredos
contos que conto nos dedos

Versos que fluem sem rumo
e se transformam
em rimas
compondo poemas enfim
de mim
e sempre e tanto 

Que curam dor
de amor 
e me fazem rir

de memórias difamatórias
sem fim

me expondo sim

Pirei

Se é gostoso para mim,

é gosto para você.

Se é difícil para mim,

é difícil para você.

Estamos nas mesmas Terras,

no mesmo mar.

Subimos as mesmas serras,

vivemos no mesmo lar.

Só me restou pirar.

Pirei.

Por ora

muitos meses

e meio

sem pudor

usando meias

palavras

com insanas ideias

em cadeia

quase sem roupa

no corredor 

de Terras 

inspiradoras

pirei

na boca

segredos

que moram

no meu interior

...

sim, senti

com ardor

o seu amor

amador

.

Por ora, acabou

Vagalume

Você vagalume

Pisca

E me acende

Você vagalume

Pica 

E me molha

Olha

Você vagalume

Homem

Vê se não some

quase

Mistérios

(quase)

Nus

Nós

(quase)

Sérios

Fases

No espelho

Lua Nova

...

Tanta coisa

que nem sei

...

Lá fora

Vida nova

...

Mudança de rumo

Terei

Iemanjá

salve Iemanjá
no meu mar
águas turvas
inicio de fevereiro
dia de Iemanjá
vejo a vida passar
cheia de curvas
sigo sem floreio
como Iemanjá
deixo levar
assim saboreio
cada chuva
e as águas de Iemanjá

cachorra

Essa noite eu dormi melada
Labuzada
Molhada porque senti seu pau.
Ah, não me leve a mal.
...seu pau.

A cachorra aqui adora!
Au au.

volte aqui

você
que parou
na esquina
e inspirou
em mim
aquela rima
virou
não voltou
e, agora,
o vento passou

volte aqui