se for pra ser
que seja já
deixa estar
esquecidos no canto
do desencanto
juntos à fina poeira do cotidiano
usamos o aspirador de pó
para desatar o nó
e filtrar do fundo do corpo
todo o pormenor leviano
que sobrou de um portanto
Empregue amor em mim
Esfregue amor em mim
Entregue amor em mim
Enxergue amor em mim
Em breve você, meu amor, em mim
É para isso que eu presto
na esplendida maturidade
com o espaço interior ocupado
de infinita capacidade de ilusão
fiz a leitura errada
do seu labirinto evasivo
e descalça perdi o passo
no justo tempo de ser
tive que me haver
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de imensidões
na loucura inicial saciada
que nos moveu em assombrosa fluidez
marcando a pauta da vida
de segundas intenções
me encontrei perdida
no seu silêncio
e sufocada pelo excesso de delírio
(mordi a isca, tô arisca
aguardando o tempo que o seu tempo tem)
tive que me desfazer
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de senões
todo o meu corpo
irradiava intenção
atiçada pela fantasia
de me queimar
nas brasas do olhar dele
nos abandonar
nas delícias do tato
com os instintos
em plena desordem
e confissões trêmulas
forjando alguma intimidade
em um namoro furtivo
que cedo ou tarde
tinha que acontecer
e aconteceu
que tudo tornara
a ficar para depois
e agora, o que sobra?
escrevo porque preciso
da minha poesia
íntima terapia
cortesia da alma
uma entrega de mim
quando eu poeto
me forjo em
versos seletos
quase secretos
dialogo com rimas
poetizando um repertório
pouco comportado
transformo dilema
em poema
me revelo
e fico bem assim
eu-poeta
nada discreta
faço um bom negócio
com essa minha poesia
sim
- sim, estou bem
confusa-mente
em estado de turbilhão
um frio na barriga
que arrepia,
irriga e acelera
meu coração
a respiração curta
furta o ar do pulmão
daí, aquele suspiro constante
...
- ai, ai
...
(isso é coisa de amante)
...
- enfim, tô serena
tipo um furacão.