terça-feira, 1 de novembro de 2022

o exato contrário do amor

tive que me haver
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de imensidões

na loucura inicial saciada
que nos moveu em assombrosa fluidez
marcando a pauta da vida
de segundas intenções
me encontrei perdida 
no seu silêncio
e sufocada pelo excesso de delírio

(mordi a isca, tô arisca
aguardando o tempo que o seu tempo tem)

tive que me desfazer
de uma paixão avassaladora
antiga, de anteontem
que me abasteceu de senões

terça-feira, 25 de outubro de 2022

o que sobra?

todo o meu corpo
irradiava intenção
atiçada pela fantasia
de me queimar
nas brasas do olhar dele
nos abandonar
nas delícias do tato
com os instintos
em plena desordem
e confissões trêmulas
forjando alguma intimidade
em um namoro furtivo
que cedo ou tarde
tinha que acontecer
e aconteceu
que tudo tornara
a ficar para depois

e agora, o que sobra?

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

um bom negócio





escrevo porque preciso
da minha poesia
íntima terapia
cortesia da alma
uma entrega de mim
quando eu poeto
me forjo em
versos seletos
quase secretos
dialogo com rimas
poetizando um repertório
pouco comportado
transformo dilema
em poema
me revelo
e fico bem assim
eu-poeta
nada discreta
faço um bom negócio
com essa minha poesia
sim

terça-feira, 11 de outubro de 2022

serena tipo um furacão

- sim, estou bem
confusa-mente
em estado de turbilhão
um frio na barriga
que arrepia,
irriga e acelera
meu coração
a respiração curta
furta o ar do pulmão
daí, aquele suspiro constante
...
- ai, ai
...
(isso é coisa de amante)
...
- enfim, tô serena
tipo um furacão.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

teu mel

te encontrar no portal
numa esquina
com desvio à esquerda
na virada da vida
sem saber muito bem
a trilha a nos levar
e sentir o céu
até enfim acordar
naquela manhã doce
de café amargo
com pão e teu mel

terça-feira, 27 de setembro de 2022

o que será

acreditar que te provei
fruto do meu delírio
de pormenores fantásticos
naquela noite desejada
em potência alucinada
no correr da madrugada
me perder no seu universo
e no silêncio após o estar
seguir calada para depois gritar 
o que pode ser e o que será

 

sábado, 17 de setembro de 2022

a deusa coroada

se entrega
enfrenta cataclismas
rompe estruturas
com delicadeza lúdica
cria um outro real
sem mais oportunidades
de viver de novo
um pedaço de vida já vivida
sobrevivente única
não fica onde já não está
anda de ida só
e em boa companhia
tudo aquilo que se tornou
é o que tem sido
coragem, deusa coroada

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Efêmera instalação

Nessa minha primavera de delírio, um amor qualquer apressado se tardou. Perdi totalmente a razão dentro do meu próprio desvario: primeiro submergi na alquimia da sua poesia lunática, extensa, quente, de recursos misteriosos e precários; depois sussurros e amassos pura inspiração, toques com pretensão, prazeres sem pressa, e viramos parte da galeria de arte.
Efêmera instalação.

sábado, 13 de agosto de 2022

oásis

num improviso raro me deparo
em contato com a sua poesia do corpo
criado imerso em arte
ao som das dúvidas
de todos e de nós mesmos
dançamos uma harmonia contrariada
e ambos dormimos sem saber muito
sobre nada