É poesia

Um dia, safada e gostosa gozando toda prosa no meio de uma crônica.
Quem diria...
Ousadia meter-se numa putaria e dela trasbordar pura poesia.
Nelson Rodrigues já sabia: sim, putaria também é poesia!

Go

Me-peguei-apegada-no-desapego-para-não-me-apegar
Um-nó-cego-sem-sossego-para-desatar
Esse-desapego-pega-ou-agente-continua-a-se-pegar?
Quando-a-gente-se-entrega-se-esfrega-e-não-pára-de-trepar
Peço-arrego-sem-fôlego-mas-sigo-querendo-me-aprochegar
Chega?

Desapego
   Esapego
     Sapego
       Apego
          Pego
            Ego
              Go
                  .

cinco sentidos

olhos nos meus
saboreiam minhas cavernas
com as mãos na minha bunda
seu cheiro nas minhas entranhas
escutando nossos barulhinhos

Memória de pele

Sabe aquela encostada básica?
Basta
Um corpo em pleno levante de pelos que se levantam
Escorro
Entre as pernas
Que se abrem
Em química
Numa rima

e ela se permitiu

sua mão entre as pernas
em cavernas úmidas
dedos que se lambuzam
e deslizam
com carinho

um beijo desejado
na boca
no seio farto da lua
e aquela esfregada
sentada

estremeceram
derreteram
permitiram

perigoso
delicioso

queria ter voltado para aquele amasso (in)esperado

fogo nas entranhas

gozei

na varanda
deitada de banda
gozei
na escada
com uma futricada
gozei
no quintal
esfregação experimental
gozei
na sala
pelada, absolutamente sem nada
gozei
dia a dia
mesmo quando não podia
mesmo quando não fodia
gozei
profundo
na frente de todo mundo

sou uma gata
mas poderia ser uma cachorra

Hoje

Ouvi seu nome
Mergulhei naquela noite
Senti seu toque
Vi a foto
Desejei uma esquina
Escutei nossa música
Versei aquela troca
Senti sua presença

Lembrei do senão

Arrepiei
Chorei

Hoje eu vivi o ontem
Isso tem futuro?

significava?

E eu
do lugar onde estou já fui embora.
Nunca esquecerei desse acontecimento
do meu coração.

E então,
talvez significou algo?
Sementes.
Talvez não no longo prazo...

E ver tão fundo
dentro do olho
que me disse tudo:
- seja o que significava.

um cigarro

desejasse
seja o que significava
aprendendo aquilo que sabíamos tão bem
que trabalheira a nossa
de rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
no sofá a falta de assunto
(e acho que nunca os tirei)
bolava sem saber
muitos fumos
- afunda e passa, irmão
guardar assim numa caixinha de prata
sementes

obedientes sonhos

as palavras me escondem sem cuidado
abafada, quem dera gritar
da minha mais alta razão:
olha-me de novo
dentro dos olhos

há quanto tempo desejo seu beijo
inaugurando um sonho
pra esse tipo de vontade
sentir-lhe a barba me roçar
coxas, pelos
e sobretudo, guardar aquele cheirinho do cangote
seu coração ainda manda, e a mão obedece
tudo sentir total

depois de uma noite longa e escura
houve loucura em qualquer direção, a qualquer hora
e ver tão fundo
e mais atenta
te olhei. e há um tempo
me iludo, passado presente futuro

agora o sonho acabou

eu nada fiz

obedientes sonhos dos quais podemos acordar e chorar