quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Coisas em comum

Estavam abraçados, deitados. Ele pousou a mão em seu ventre. Fazia frio. Já era tarde, mas tinham se deixado levar pela noite das revelações. Veio de novo aquele frio na barriga. Sorriram desconfiados, é verdade. Tinham culpa no cartório e sabiam disso. A possibilidade da mudança, a novidade iminente, mais uma transformação! Tentaram dormir, cada um na sua, mas com duas coisas em comum.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A mentirosa irreverente que inevitavelmente existe na gente

Ela mente espontaneamente, tão tranquilamente que nem sente. Fala assim, de repente, naturalmente e de forma muito envolvente. Quase teatralmente. Mente frequentemente, descaradamente, em qualquer ambiente.  Sua mentira é eficiente, eloquente. Sem dúvida, nisso ela é competente. Mente até para estrela cadente, parece uma adolescente. Ela mente diariamente porque é conveniente. Geralmente, a mentira dela é consistente. Mente contente e sorridente. Isso é sem precedente! Mente tão religiosamente que não há quem aguente. Mas, paradoxalmente, a menina é inteligente, atraente. Definitivamente, ela é diferente. A verdade é que mente, certamente, porque é carente. Disso ela (e todo o mundo) está ciente. Mente até pra própria mente. A mentira mais recente foi comovente: garantiu que era uma crente inocente. Mentira recorrente. Ser assim é pertinente ou decadente? Há mentira beneficente? Mentir não seria contraproducente? Ideologicamente, filosoficamente, eu diria que é remar contra a corrente, deprimente e imprudente! Será ela uma inconsequente? Oxente, não! Definitivamente, ela é gente que mente consciente que nem a gente!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nada mudou

Contrariada, ela fez de tudo para chamar atenção. Pintou e bordou. Deitou e rolou. Magoou. Chorou. Parecia uma criança de três anos. Ainda possessiva, querendo possuir a atenção de todos. Caso típico para ser tratado na terapia, que ela não faz. Foi notada. E isso não a levou a quase nada. Minto, levou-a a uma reflexão um tanto contrangedora: apesar de já ter passado dos trinta, permanecia imatura, era emocionalmente frágil, vulnerável. Bastou um frame para que a matrix lhe fosse revelada; bastou um segundo para notar isso; bastou uma letra. Lavou o rosto, molhado com lágrimas de frustração que escorreram escondidas, respirou fundo, seguiu seu caminho. Ao invés de contrariada, se viu acomodada naquele sentimento de não realização. Não se encontrou. Nada mudou. Acomodou.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um ano e quatro















Com um ano e quatro

Gaia bate o maior papo!
- Oi papai, tchau mamãe!
- Achôô...
- Pão, banana, mamão
Isso ela fala de montão.
- Chapéu e sapato
Ela adora roupa,
É um barato!
- Vovô, vovó
Com eles é forrobodó!
E a família maluca?
- Nina, Vini, Nana
Quando eles se juntam
A farra é tamanha.
- Tim-tim!
Brindamos à vida constantemente,
É a corrente, é a corrente!
- Chuta, bola
Assim o pai deita e rola!
E quando o telefone toca?
- Alô, bem?
Tudo bem, filha, tudo lindo maravilhoso!
- Mar, sol, lua
Juro que não é falcatrua!
Tantas outras palavras,
Que não dá pra escrever.
A cada dia, vejo minha filha
crescer e aparecer!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Parei!

Parei para pensar,
cansei de duvidar.
Parei!
Parei para viver,
não quero só envelhecer.
Parei!
Parei para sorrir,
a vida vai além do ir e vir.
Parei!
Parei para compor,
só assim consigo me expôr.
Parei!
Parei com o glamour,
se não, vou "mi fu".

sexta-feira, 27 de abril de 2012

oito + um = nove

Nove vidas somadas,
E muitas experiências divididas.
Amores multiplicados por nove.
Mas atenção:
É importante subtrair as distâncias,
Se não, noves fora, zero.
Aí, é desespero e eu destempero.
O que eu quero?
Amigos por perto
Isso é o certo, certo?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cerrada



















Fechada para balanço
para escorrega, para trepa-trepa.
Fechada para buscar inspiração,
Pois muitas vezes abrir
(seja lá o que for!)
É piração.
Fechada para escolher o que é melhor.
Fechada para proteger o meu melhor.
Em boca fechada não entram moscas
(nem comida!)
Assim as palavras não saem toscas.
(nem distorcidas!)
Fechada a procura da escuridão.
Fechada para conseguir o mínimo de ilumição.
Fechada para coisas a beça.
Tô nessa, sem pressa...
Fechada para balanço
para escorrega, para trepa-trepa.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Confesso que vivi















Doce e vaga lembrança de histórias...
A memória seleta privilegia o sentimento
E não a exata lembrança do momento em si.
O quê, quem, quando, onde, como e por quê
Fui parar naquela festa?
Só sei que foi ótima!
Quisera eu ter mantido o hábito saudável do diário.
O que me contaria ele?
Que contos reviveria?
Incertezas esquecidas,
Sabores de toda uma vida.
Doce e vaga lembrança de histórias...
A memória seleta edita e dita.
Doce e vaga lembrança de histórias...
Que contam o que sou
Quem sou
Quando sou
Onde sou
Como sou
Porque sou.
Doce e vaga lembrança de mim mesma...
Confesso que vivi.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Cartão de crédito

Comecei a usar
cartão de crédito
É certo?
Incerto é o dito
pelo não dito
Certamente
Sem crédito.